sábado, 11 de junho de 2016

Tempero de amor

cronica escritora joinville dia dos namorados

Desde muito cedo, aprendi com minha mãe que, quando ela me oferecia comida, era mais que uma maneira de manter minha subsistência. Em minha casa, comida sempre foi sinônimo de amor. Está doente, que tal uma sopinha? Olha, te trouxe um chocolate. Se comer toda a salada, pode repetir a sobremesa. Dinheiro era pouco, a família não era das menores, então oferecer comida, feita com as próprias mãos e temperada com carinho e esmero, era uma forma digna, rápida e eficaz de ofertar amor.

Meu gato, Tom, aprendeu rapidinho a lição. Desde que ele foi adotado, todas as vezes que pego o patê, pergunto a ele “Quem é o gato que me ama?” E ele mia, em resposta, Miaaaaaau, como uma criança a responder Eeeeeeeuuu. Ele aprendeu comigo, que aprendi com minha mãe (que provavelmente aprendeu com minha avó) que comida é igual a amor. Um amor delicioso, a pequenas colheradas ou grandes goles, um amor que alimenta e nutre, de dentro para fora.


Meu marido, não. O amor na casa dele nunca foi oferecido em travessas de doces ou em pratos de gulodices. Comida era para o corpo, para dar sustância. Amor era outra coisa, não podia ser comprado e cozido na panela, não precisava de geladeira nem de tempero.

Aos olhos da minha família – e aos meus, que aprendi a ser gente com ela – era um amor esquisito, um amor sem sabor, sem o acolhimento quentinho que só o fogo pode trazer através do cozimento.

Mas, em se tratando de amor, quem pode dizer qual a receita correta? Que tipo de amor vale mais que o outro? O amor em forma de comida valeria mais que aquele que vem em forma de suporte financeiro? Ou vale mais que o amor em forma de presentes? Vale menos que o amor em forma de tempo de dedicação? Tantos amores, sem qualquer escala que os possa mensurar.

A gente aprende, desde muito cedo, a seguir uma velha máxima aprendida na infância: só fazer aos outros o que gostaríamos que fizessem a nós mesmos. Só esquecem de nos ensinar que somos todos diferentes, que aprendemos a manifestar amor de variados modos. O melhor para mim nem sempre é igual ao melhor para o outro.

Que nesse dia dos namorados possamos aprender a demonstrar o amor que o outro precisa de nós, com tempero, ou como for. E se precisar de ajuda nisso, o projeto Comunicação consciente, coração contente pode ajudar. Feliz dia dos namorados.


(Andreia Evaristo)
Crônica publicada em 11 de junho de 2016, no jornal A Notícia.

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