domingo, 27 de dezembro de 2015

Retrospectiva 2015

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Fim de ano é sempre tempo de retrospectiva – não apenas aquela da televisão, que mostra os melhores e os piores momentos do ano (transmitem isso ainda?), mas aquela retrospectiva interior, pessoal, introspectiva.

Tenho visto muita gente por aí reclamando de 2015, que foi um ano pesado, um ano difícil, cheio de crise. Foi o ano em que nós, seres humanos, falhamos miseravelmente, enquanto humanidade. Assistimos a ataques terroristas, de homens se levantando contra homens. Presenciamos a negligência contra nossos irmãos desesperados, fugindo da guerra em busca de sonhos – e fomos obrigados a encarar nossa própria miséria no rosto pequenino deitado na areia, com as ondas a lamberem os sonhos que nunca mais serão. Discutimos com nossos jovens a desigualdade entre homens e mulheres, mesmo que fosse para discordar da forma como o Enem abordou a questão.

domingo, 20 de dezembro de 2015

O dia em que o whats parou

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A histeria começou na quinta-feira à noite. Recebi, de mais de um contato diferente, a informação – importantíssima e urgente – de que o whatsapp ficaria fora do ar por quarenta e oito horas. “Um absurdo”, bradavam alguns. O motivo? Ninguém sabia me dizer. Mas pouco importava. O que importava mesmo é que as pessoas teriam que ficar dois dias inteiros sem poderem se conectar com essa tão importante ferramenta da modernidade.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Volta, Maria!

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Maria, você se casou este ano, aos 16. Estava tudo indo bem, as notas na escola eram suficientes para passar de ano sem exames finais. Mas você jogou tudo para cima. Não por vontade própria – o marido assim o quis. Afinal, você se casou para ser uma dona de casa e esposa dedicada à família.

Sem esquentar a cabeça

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Não sabia dizer quando essa paixão, se é que assim podemos chamar, começou. Foi o marido que, a primeira vez, comentou:

“Eu, hein, mulher, não pode ver uma chaleira!”

Ela passou a prestar atenção. E não é que ele estava mesmo certo? A cada lojinha, ela insistia em parar em frente às chaleiras.

“Olha, marido. Tão bonita essa aqui.”

Ele mal resmungava um “aham” e nem perdia tempo em olhar. Para ela, todas as chaleiras eram bonitas. A princípio, havia duas chaleiras. Uma, de inox, ganhada no casamento, tinha um apito na ponta, desses que avisam que a água ferveu – o marido implicou com o barulho chato que fazia.

“Já não chega a barulheira toda dessa casa?”

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Barbeiragem

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Entro no carro. Confiro espelhos, coloco o cinto de segurança. Ligo o motor e o rádio, preparando meu espírito para mais uma batalha no trânsito. Por mais que eu tenha experiência dirigindo ano após ano nos horários de rush, há sempre um novo desafio a ser vencido.

As ruas, devido às chuvas e à má qualidade do asfalto, estão esburacadas. São buracos uns atrás dos outros, uns aos lados dos outros e uns esperando vagar espaço para entrar no meio dos outros. Desvio deles como uma viciada em videogame a pilotar um joystick.
A atenção precisa ser triplicada. Veículos se acumulam nos congestionamentos, parando brusco a qualquer momento, com ou sem luz de freio. Pedestres suicidas precisam ser desviados, são quase kamikazes a andar a pé, se jogando na frente dos veículos em movimento.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

"Pobre fazendo pobrice"

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Ela tinha o peito de fora.

E pendurado no peito, a cria, mamando, como cabe aos mamíferos de qualquer espécie.
Não tinha pudores. Seu instinto de mãe já havia deixado de lado qualquer vergonha que a exposição poderia trazer. Ela bem sabia que os olhares poderiam sensualizar – e sexualizar – um ato que era natural, puro e inocente. Mas a preocupação com o filho sobrepujava qualquer mal entendido (para usar aqui um eufemismo).

sábado, 5 de dezembro de 2015

Foco narrativo e os tipos de narrador

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Quando você produz um texto em prosa, seja ele um conto, uma crônica, um romance ou qualquer outro tipo de história, precisa escolher um foco narrativo. Você deve ter aprendido na escola que a narração pode ser em primeira ou em terceira pessoa, certo? Mas ela também pode ser em segunda pessoa. Vejamos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Do assédio nosso de cada dia, nos livrai hoje!

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Dia desses, meu marido chegou em casa com um ramalhete de apitos cor-de-rosa. Curiosa, perguntei-lhe do que se tratava. “Apitos anti-assédio”, respondeu-me. A proposta é interessante: ao menor sinal de violência, a mulher deve botar a boca no trombone – no apito, no caso. A ideia surgiu quando, no Recife, mulheres chamavam a polícia quando uma das vizinhas estava sofrendo agressão doméstica e se posicionavam em frente à casa da agredida para um apitaço, à espera da viatura.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Livro em branco ou enciclopédia?

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A vida diária nos puxa à correria. A gente acorda cedo, antes que o galo cante chamando o nascer do sol. Mal engole um café com pão, veste a roupa da lida com a pressa de quem sabe que o mundo pode acabar a qualquer momento, e sai. Corre no trânsito, trabalha correndo, deixa o almoço escorregar pela garganta mal mastigado, para depois ser mal digerido, e volta correndo ao trabalho apressado. A vida tem pressa para acontecer, e não temos tempo a perder com frivolidades, como a preocupação com o outro. As famílias estão perdendo o contato com parentes em segundo grau: irmãos adultos, muitas vezes, só se encontram uma ou duas vezes por mês; tios e primos são uma raridade presente apenas em festividades religiosas, como Natal ou Páscoa. Tudo isso porque – achamos – a vida não para.