segunda-feira, 21 de março de 2016

Como organizar seu enredo em 10 etapas

Método floco de neve



 O nome floco de neve é uma alusão ao formato estrelado dos flocos de neve quando observados num microscópio. A ideia é que, assim como o floco de nove, você vai partir de um ponto central e ampliar as ramificações do seu enredo até chegar a um floco de neve.

1.                 Storyline (uma hora)

Resuma sua história em uma única frase – quanto mais curta, melhor (menos de 15 palavras é o ideal). Evite nomear os personagens por enquanto.

Torne sua história pessoal. Quem é o personagem que mais tem a perder com essa história? O que ele quer conseguir com essa jornada?

domingo, 20 de março de 2016

Não há escrita sem dor


O fazer literário é colher frutos silvestres na lida cotidiana. Precisa de um bom recorte da realidade, e de uma lente íntima e pessoal que possa transpor no papel mais do que o acontecimento em si, mas a própria essência do ser.

Não estou nos ônibus nem nos pontos, nos botequins nem nos shoppings. Ando sem tempo para a colheita que o mundo oferece. Ainda assim, todos os dias, histórias me caem no colo, como crianças à procura de alento. São dores dilaceradas, mutiladas, que encontram no desabafo ao meu ouvido a remissão dos pecados.


sexta-feira, 18 de março de 2016

As histórias e o pente

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Quando contamos uma história, seja ela de que gênero for, precisamos prestar atenção aos elementos que a compõe. Tais elementos constituem o PENTE:

 
Personagem
Enredo
Narrador
Tempo
Espaço

Como escritor, você pode escolher quais desses elementos pretende privilegiar em detrimentos dos demais. Pode, por exemplo, construir uma história que se foque mais no personagem que no enredo. Pode evidenciar o tempo em que a história ocorre, ou transformar o espaço no protagonista da sua história. Mas, para poder escolher o que quer fazer, você precisa ter consciência de como tais elementos são formados.

sábado, 12 de março de 2016

Estudar não é coisa de mulher


Dia da mulher. Abro o whatsapp e uma das melhores alunas que já passou por minha vida – daquelas que são ótimas na escola e na sociedade – me manda felicitações pelo dia. Sou feliz quando alguém me diz que, de alguma forma, se espelha em minhas ações, que me acha uma mulher de personalidade forte e que marcou sua vida, mesmo que um pouquinho.

Pergunto-lhe sobre a faculdade – aquela, para a qual ela batalhou tanto; aquela, cuja nota do Enem lhe garantiu uma bolsa de 100%; aquela, que seu pai não queria que ela fizesse porque, enquanto mulher, ela não precisaria dessas coisas.

Ela não responde, de imediato. Deve estar pensando numa forma gentil de me dizer o que não há gentileza no mundo que possa suavizar.

– É que eu não estou fazendo a faculdade.

No primeiro dia de aula, ela estava toda arrumada, cheia de expectativas e ansiedades, indo para a instituição. Seus sonhos estavam nas nuvens, exatamente onde Fernando Pessoa sempre insistiu que os sonhos devem estar. Devia deslizar pelos caminhos, flutuando. Até chegar ao terminal de ônibus.

Aquele homem endurecido que ela chama de pai a aguardava na estação. Com vozes alteradas, ele lhe disse com todas as letras que ela não iria mais à faculdade, que o sonho terminava ali, antes mesmo de começar. Que essas coisas de estudar não são coisas de mulher. Mulher precisa aprender a bordar, a cozinhar, a lavar e a passar. Um cursinho de corte e costura, talvez. Mas Economia? Mulheres nem se dão com os números, de qualquer forma.

Minha mãe conta, com os olhos marejados, que meu avô a tirou da escola, pelos mesmos motivos, que ela acordava de madrugada para tentar fazer as tarefas que ele a impedia de fazer durante o dia, que ela tinha boas notas, e nada disso bastou. Mas isso foi há uns quarenta anos! Não consigo crer que, ainda hoje, homens jovens pensem como meu avô, que beira os 80.

Moça, você merece o mundo! Não se deixe abater. Sei que você ainda vai conseguir, vai dar a volta por cima, vai provar para o seu pai que os números se dão tão bem com você quanto você com eles. Que lavar, passar, essas coisas todas são coisas de seres humanos, independente se homens ou mulheres. Que a vida é curta, mas seu coração é enorme.

Que você possa perdoá-lo, um dia (porque eu não sei se consigo).

(Andreia Evaristo)
Crônica publicada no jornal A Notícia, em 12 de março de 2016.

terça-feira, 8 de março de 2016

Aprender a ser mulher

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Eu devia ter um cinco anos, quando descobri um tesouro escondido no guarda-roupas de minha mãe. Deitado no assoalho do móvel, um par de sapatos de salto, bico fino, de textura croco em verniz marrom. Quase posso sentir a textura do material nos dedos. Eram lindos os scarpins da minha mãe. Ela quase nunca os usava. Como uma joia, eles eram guardados para ocasiões especiais. Lembro-me de tê-la visto com eles uma única vez na vida, no casamento de minha tia, com um terninho de linho bege com detalhes em couro marrom. Linda minha mãe ficava nessas ocasiões.

Na lida cotidiana, ela estava sempre com chinelos nos pés. Saltos atrapalham na hora de limpar a casa, de lavar a roupa, de andar pelo quintal em meio a britas e matinhos que insistem em verdejar.

Assim que encontrei os saltos de minha mãe fui tentada a calçá-los. Como os sapatinhos de cristal da Cinderela, os saltos de minha mãe eram encantados, eu sabia. Coloquei primeiro o pé direito, que diziam dar sorte, me sentindo muito mulher no alto dos sete centímetros que tinha a mais. Fui para a sala, encontrei o vinil correto. Com a agulha de diamante na faixa três do lado A, Madonna cantava e eu dançava, linda como minha mãe na festa de casamento.

O que eu não percebia na época – e que talvez muitas mães não percebam hoje em dia – é que filhas pequenas seguem os passos da mãe. Seja com o salto alto marrom de verniz croco, seja com a havaiana surrada do dia-a-dia. A beleza está em aprendermos com as mulheres das nossas vidas como é ser mulher de verdade. Minha mãe me ensinou, mesmo que não saiba, que mulher bonita é aquela que vai à luta, que não se deixa desanimar com os problemas diários – porque se preocupar com eles não faz com que desapareçam. Aprendi que ser gentil não implica ser ingênua. Aprendi que homens podem fazer conosco aquilo que nós deixamos que eles façam – e que se eles nos tratam mal, é hora de dar um basta na situação, mesmo que o mundo nos condene. Aprendi que, se o coração se aperta de emoção, não há mal algum em deixar as lágrimas escorrerem: é para isso que os sentimentos foram feitos, para serem sentidos.

Mães, sejam para suas filhas o exemplo daquilo que gostariam que elas fossem no futuro.

Feliz dia da mulher.

(Andreia Evaristo)
Publicada no jornal A Notícia em 05 de março de 2016.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Uns mais iguais que os outros

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Dia de festa. O salão se exibia imponente, com a entrada ricamente adornada por dois arranjos de flores vermelhas, que se erguiam à altura de duas pessoas. Mesas com finas toalhas de estampa barroca, tom sobre tom, ditavam a elegância que se espera numa data como essa. Os formandos começaram a entrar, um a um, embalados pelo trecho de música que melhor lhes representava a própria vida. Feito o brinde, deu-se início ao baile.

Em ocasiões solenes, máscaras – politicamente corretas ou não – são ostentadas com pomposidade e orgulho e, ao menos no início da festa, ninguém é de verdade. Ninguém é cotidiano, ninguém é chinelo no pé. No início da festa, somos todos personagens que nós mesmos criamos, sem jamais ensaiarmos para a estreia, mas que nos empenhamos em atuar para o mundo, em selfies no instagram que demonstram o quanto nossa vida é bacana e nossa felicidade, contagiante – e o quanto nossos amigos virtuais deveriam nos invejar, porque temos tudo o que eles gostariam de ter (e nós também).