terça-feira, 8 de março de 2016

Aprender a ser mulher

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Eu devia ter um cinco anos, quando descobri um tesouro escondido no guarda-roupas de minha mãe. Deitado no assoalho do móvel, um par de sapatos de salto, bico fino, de textura croco em verniz marrom. Quase posso sentir a textura do material nos dedos. Eram lindos os scarpins da minha mãe. Ela quase nunca os usava. Como uma joia, eles eram guardados para ocasiões especiais. Lembro-me de tê-la visto com eles uma única vez na vida, no casamento de minha tia, com um terninho de linho bege com detalhes em couro marrom. Linda minha mãe ficava nessas ocasiões.

Na lida cotidiana, ela estava sempre com chinelos nos pés. Saltos atrapalham na hora de limpar a casa, de lavar a roupa, de andar pelo quintal em meio a britas e matinhos que insistem em verdejar.

Assim que encontrei os saltos de minha mãe fui tentada a calçá-los. Como os sapatinhos de cristal da Cinderela, os saltos de minha mãe eram encantados, eu sabia. Coloquei primeiro o pé direito, que diziam dar sorte, me sentindo muito mulher no alto dos sete centímetros que tinha a mais. Fui para a sala, encontrei o vinil correto. Com a agulha de diamante na faixa três do lado A, Madonna cantava e eu dançava, linda como minha mãe na festa de casamento.

O que eu não percebia na época – e que talvez muitas mães não percebam hoje em dia – é que filhas pequenas seguem os passos da mãe. Seja com o salto alto marrom de verniz croco, seja com a havaiana surrada do dia-a-dia. A beleza está em aprendermos com as mulheres das nossas vidas como é ser mulher de verdade. Minha mãe me ensinou, mesmo que não saiba, que mulher bonita é aquela que vai à luta, que não se deixa desanimar com os problemas diários – porque se preocupar com eles não faz com que desapareçam. Aprendi que ser gentil não implica ser ingênua. Aprendi que homens podem fazer conosco aquilo que nós deixamos que eles façam – e que se eles nos tratam mal, é hora de dar um basta na situação, mesmo que o mundo nos condene. Aprendi que, se o coração se aperta de emoção, não há mal algum em deixar as lágrimas escorrerem: é para isso que os sentimentos foram feitos, para serem sentidos.

Mães, sejam para suas filhas o exemplo daquilo que gostariam que elas fossem no futuro.

Feliz dia da mulher.

(Andreia Evaristo)
Publicada no jornal A Notícia em 05 de março de 2016.

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