sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Ações valem mais que mil palavras

Quando um café não é apenas um café


Estrelas além do tempo

Eu já disse aqui que personagem é ação. A velha máxima dos roteiristas americanos do show, not tell também vale quando estamos falando de livros, de histórias escritas. Mas, para quem está começando (ou para quem acredita que sempre há espaço para aprender), muitas vezes fica difícil entender o que essa regra de ouro significa. Por isso, pensei em trazer hoje um exemplo (das telonas) para exemplificar como isso funciona na prática.

Você já deve ter ouvido falar que um bom escritor quase não usa adjetivos e advérbios, certo? Bem, eu não sou do tipo que acredita em regras na hora de escrever, até porque estamos tratando aqui da escrita literária - e se literatura é arte, a arte não precisa de amarrar. Contudo, também estou no grupo das pessoas que acredita que, para quebrar as regras e subvertê-las, é necessário conhecê-las. Por isso bato tanto na tecla de que um bom escritor precisa conhecer o que dizem os especialistas em narratologia e story telling, de Aristóteles aos nossos contemporâneos.

Para exemplificar, trouxe aqui cenas do filme Estrelas além do tempo - filme lançando em 2016, que traz a história de três mulheres negras que trabalhavam para a Nasa, no auge da corrida espacial, nos anos 1960. O filme é incrível e nos provoca muitas reflexões. Vale muito a pena assistir. O post contém spoilers. Por isso, se você é como eu e acredita que quem faz spoiler merece uma morte lenta e dolorosa prefere ser surpreendido durante a narrativa, sugiro que assista ao filme antes de continuar a ler este post.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Como elaborar um roteiro de escrita

Porque ninguém merece ficar travado num bloqueio criativo

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Na semana passada, vimos algumas definições e conceitos que são necessários conhecer antes de partirmos para a elaboração do roteiro propriamente dita. No vídeo de hoje, coloquei um modelo de escaleta (é a escaleta que eu usei para escrever Allegra: antes do play). Além disso, expliquei, item por item, todos os elementos da escaleta que eu uso.

Mais uma vez, gostaria de reforçar: o que eu apresento aqui é uma forma de fazer, não uma fórmula. Vamos logo ao que interessa? Dá um play aí:



O modelo da escaleta que eu cito no vídeo pode ser encontrado no link a seguir: http://bit.ly/roteiroallegra

E aí, restou alguma dúvida? Deixei seu recadinho nos comentários.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Como fugir do bloqueio criativo

Ou como produzir um roteiro da sua história para nunca mais ficar travado na hora de escrever


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Alguns escritores, tão logo começam a se enveredar pelos caminhos da escrita de textos mais longos, acabam se deparando com um fantasma: o bloqueio criativo. Não é que eles não saibam de onde seu personagem principal veio ou até mesmo para onde ele vai ou o que vai acontecer com ele, mas eles se sentam em frente ao computador e travam.

Para evitar esse tipo de bloqueio, uma das coisas que eu aprendi a fazer foi a escaleta.

Escaleta é um roteiro da história do seu livro, cena por cena, já divididas em capítulos, apontando todas as informações possíveis na ordem em que serão escritas.

Para começar a explicar o que é uma escaleta, é necessário dominar alguns conceitos básicos, cuja origem está no cinema. No vídeo a seguir, o primeiro de uma pequena série sobre como produzir um roteiro de escrita, eu defini o que é cena, o que é sequência e quais as funções de uma cena - além de dar exemplos sobre como essas funções funcionam na história.



Gostaria de lembrar que as dicas presentes no vídeo são uma FORMA de fazer literário, não uma FÓRMULA. Literatura é arte e, enquanto arte, não precisa de amarras - cada escritor é livre para produzir seus textos da maneira que achar mais interessante.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Como perder um leitor em uma única ação

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Quem escreve, escreve para ser lido, certo? Claro que você quer ficar famoso, ter fãs leitores e vender milhares de exemplares - mas isso tudo só vale se você for lido. Então você bola um plano maravilhoso de marketing, interage com outras pessoas pelas redes sociais (pessoas, estas, que você conhece pessoalmente ou não) e o leitor é, enfim, convencido a conhecer a sua obra. Ótimo, não é mesmo?

Sim, desde que seu livro esteja pronto.

Para considerar um livro terminado, não basta terminar a história e escrever FIM colocar um ponto final. É preciso que ele seja revisado - às vezes, mais de uma vez.

Quando eu falo em revisão, não estou falando em o autor reler seus escritos e reescrever o que precisa ser reescrito. Isso também é importante, mas estou falando de revisão ortográfica e gramatical, aquela feita por um especialista, que manja das regras da gramática normativa.

Tenho lido muitos livros de escritores nacionais contemporâneos - alguns lançados por editoras pequenas ou médias, alguns independentes (inclusive, leio muito na Amazon/Kindle e no Wattpad). Tenho encontrado histórias riquíssimas, interessantíssimas, mas confesso que me desestimula continuar a ler depois de encontrar muitos erros.

Sou do time que acredita que o escritor deve dominar as noções básicas da língua que utiliza para trabalhar, afinal, ela é seu instrumento de trabalho. Mesmo assim, acredito também que ele deve contratar um revisor para seu texto depois de terminado. Muitas vezes, os olhos de quem escreve ficam viciados no texto e não captam erros primários que qualquer um perceberia.

Outra coisa: cuidado ao escolher seu revisor. Há muita gente oferecendo seus serviços pela internet. Alguns são ótimos; outros, nem tanto. Contratar um revisor sem formação pode ser um péssimo investimento, por mais barato que seja. Vejo muitos livros com vírgulas separando sujeito de predicado, verbos conjugados erroneamente, frases sem coesão/coerência... Isso empobrece seu texto.
Sua história deve falar por si. É o seu cartão de visitas. É com ela que você conquista leitores que vão querer acompanhar seus próximos trabalhos. Se você não investe em si mesmo, por que uma editora deveria fazê-lo?

sexta-feira, 31 de março de 2017

Gabriela nublada



Gabriela entrou em minha sala cedinho. Nublada – a menina, não a manhã. Com os lábios finos apertados numa linha estreitíssima, perguntou-me se podia sentar. Ao meu consentimento, sentou-se, juntou as mãos como quem queria rezar, enfiando-as entre os joelhos. Primeiro, contou-me que estava frequentando a psicóloga, como eu havia sugerido. Depois, desviando os olhos dos meus, confessou que, embora a terapia estivesse ajudando, ela não estava bem. Era como se sua alma estivesse sempre cinza, as ações sempre realizadas em modo automático. “Eu me sinto um robô.”

Lembrei-me do homem de lata de O mágico de Oz, que se juntou à Dorothy na jornada, em busca do coração que lhe faltava. Talvez Gabriela não saiba, talvez desconheça o personagem da literatura e do cinema, mas ela não é um robô, é uma garota de lata. A diferença é que, o que falta ao homem de lata, sobra à menina nublada.

Há coração demais na tempestade em seus olhos, quando ela me diz que perdeu o pai para o câncer. Há coração demais naquele corpo que, com angústia reprimida, ainda sente as dores da mão pesada do homem falecido, que lhe castigava a carne quando algo dava errado. Há coração demais na ventania ressentida da casa vazia de mãe, que trabalha do nascer ao pôr-do-sol, sem poder se sentar com a filha e escutar-lhe as mazelas do dia a dia.

Pela janela, percebo a sombra que se forma. As nuvens estão cobrindo os poucos raios de sol daquele dia. Talvez seja a natureza, compadecida e solidária à menina cinza à minha frente. Gabriela choveu em minha sala. Gabriela desaguou mágoas, lembranças, monstros devoradores de entranhas. Saiu, espero eu, um pouco mais leve que entrou.

Quantas vezes, em nossa curta existência, nós também não nublamos, por dentro ou por fora? Quantas tempestades carregamos dentro d’alma, quantos pingos de chuva se agarram a nossos glóbulos oculares, com medo da queda suicida? Toda lágrima que cai é uma dor que morre no vazio.


No fim do dia, o céu está mais cinza que Gabriela quando transpassou o batente de minha porta. O céu cor de cimento descia por trás dos prédios, por trás dos verdes morros que circulam a cidade. Na rádio, o locutor diz que, em Porto Alegre, depois da tempestade, o pôr-do-sol tingiu os céus num espetáculo de luzes. Espera, Gabriela! Deixa chover tudo o que precisa ser chovido e espera pelo espetáculo – ele virá, eu sei que virá.

(Andreia Evaristo)
Crônica publicada em 25 de março de 2017, no jornal A Notícia.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Personagem é ação

Seus personagens precisam falar por si mesmos


Uma das dicas mais preciosas que eu aprendi sobre a arte de contar histórias nos últimos tempos diz respeito ao personagem. Curiosamente, essa não é uma dica sobre construção de personagem, mas sim de como apresentar seu personagem ao público.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Tiro trocado não doi? Ou traição é traição, independente dos motivos?


Sabe quais são os dois assuntos que mais vendem no mundo do entretenimento? Sexo e violência. Um livro com a palavra sexo no título é uma excelente estratégia de marketing, mas só isso não basta, certo? A resenha de hoje é sobre o livro Sexo virtual, amor real, da escritora Luisa Aranha. Confere a sinopse: