quinta-feira, 14 de abril de 2016

5 Dicas para escrever um bom conto


Conto é uma narrativa curta, que contempla um único conflito. Quando eu digo curta, quero dizer que não é tão longo como uma novela ou um romance, mas podemos ter contos com 20, 30 páginas – se contiver um único conflito, ainda assim será um conto.

O mesmo cuidado que precisamos ter ao construir os personagens de um romance precisamos ter ao pensar nos personagens do conto. Talvez não seja necessário fazer uma biografia do personagem, dado que haverá um único conflito. Ainda assim, é importante pensar em quem é esse personagem, quais as suas características mais marcantes, que defeitos ele tem, o que o motiva/move.

Mais uma vez, vamos recorrer ao PENTE:


1. Para criar personagens inesquecíveis, marcantes, precisamos nos atentar para alguns detalhes:


  • Fuja do general
O mundo está saturado de histórias contadas pelo ponto de vista do mais importante, do vencedor. Tente contar a mesma história sob a ótica de alguém com menos visibilidade. Por exemplo, numa narrativa de guerra, em vez de contar a batalha pelos olhos do general, por que não escolher o descascador de batatas que foi recrutamento “sem querer” pelo exército e que não fazia ideia de onde estava se metendo?

  • Fuja do Capitão América
Personagens perfeitinhos podem ser o padrão ideal de alguns escritores, especialmente os iniciantes. Mas eles muitas vezes resultam em personagens chatos, com pouca identificação do público. Para conseguir personagens mais reais, busque as imperfeições, os defeitos, os traumas. Isso ajuda a formar uma base interessante e cria curiosidade no leitor.


2. Preste atenção ao seu enredo:


  • O que os personagens têm a perder
Quando pensar no conflito do seu conto, pense em algo que esteja em jogo que signifique muito na vida do personagem. Quanto mais estiver em jogo, maior a aderência do público. Imagine uma menina que quer ganhar uma viagem num concurso – o que ela tem a perder se não conseguir resolver seu conflito? Agora imagine que no local para onde ela vai viajar mora um curandeiro, que promete uma poção de cura do câncer, o mal que aflige sua mãe? A história fica muito mais interessante.

  • Não se perca numa trama de conflitos
Caso você opte por fazer a construção completa do seu personagem, cuidado para não se perder numa rede de conflitos – se não, em vez de um conto, você vai acabar produzindo um romance ou uma novela. É importante definir exatamente qual o conflito, o problema que se pretende resolver na história.


3. Sob seu narrador, considere duas coisas:


  • Primeira ou terceira pessoa:
Sua história vai ser narrada por um dos personagens, ou alguém de fora da história o fará? E esse narrador é onisciente (sabe tudo o que acontece, o que se passa mesmo na cabeça dos personagens) ou é um mero observador da história? A escolha de um bom narrador pode representar o sucesso ou fracasso na hora de contar uma história.

  • Confiável ou não-confiável:
Uma estratégia interessante quando contamos uma história é escolher se o narrador é confiável ou não. Se ele for confiável, todas as informações repassadas ao leitor do início ao fim do texto precisam ser verdadeiras, e estar devidamente amarradas para não deixar furos. Já se você escolher um narrador não-confiável, ele pode contar o que ele acha que aconteceu, e depois demonstrar ao leitor que estava equivocado.


4. Com relação ao tempo da história:


  • Presente ou passado:
Há, basicamente, duas formas eficazes de narrar uma história: no presente e no passado. A diferença básica é que no presente você cria uma espécie de suspense; é como se o leitor estivesse com o narrador no momento em que as coisas estão acontecendo. Isso cria uma tensão permanente em quem lê, porque, assim como o narrador, ele não sabe o que pode acontecer. Já no passado, a leitura é normalmente mais tranquila. Claro que é possível criar uma tensão quando a história é narrada no passado, mas, de modo geral, o leitor deduz que o narrador não vai morrer no curso da história, já que ele está narrando algo que aconteceu no passado. Igualmente, só é possível criar momentos de suspense narrando no passado se o narrador ocultar alguns fatos, já que no futuro onde ele se encontra, ele já sabe o que aconteceu.

  • Não misture os tempos:
Um dos erros mais comuns do escritor iniciante é começar uma história no presente e depois passá-la para o passado, e voltar ao presente. Veja bem: eu não estou me referindo ao tempo da história – esse, sim, pode ir e voltar conforme os desejos do escritor. Estou falando dos verbos usados no texto.

Maria acorda e vai ao banheiro. Escovou os dentes, bochechou enxaguante bucal. Depois vai à escola sem tomar café da manhã.


5. Não se esqueça do espaço:


  • Um único lugar:
Como o conto é uma narrativa curta, normalmente ele apresenta a história num único espaço. Claro, é possível, dependendo da trama, que os personagens precisem ir de um ponto a outro, de um lugar a outro. Mas lembre-se: isso só deve acontecer se houver um motivo na história para que eles se locomovam.

  • Só descreva o que for pertinente:

Como regra geral, evite longas descrições (de espaço ou mesmo de personagens). Na modernidade, é mais comum apresentar nos textos apenas as informações que sejam relevantes ao andamento da história. Assim, não comece um texto falando que havia uma escola onde meninos e meninas estudavam separados, em alas divididas por uma cerca, se depois você for contar o drama de uma menina órfã que não tem relação nenhuma com o fato de não ter meninos no seu lado da escola.

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