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Uma das
primeiras coisas que me chama a atenção quando alguém me pede para dar uma lida
no seu texto é a questão dos tempos verbais. Vejamos:
Mal Hugo entrou pela porta, foi surpreendido pela mão dura da mãe, que o acertou em cheio com uma
varinha de marmelo. O garoto não sabia por que estava apanhando, mas tinha certeza de que tinha sido descoberto em
alguma de suas traquinagens. Quando a varinha se quebra, a mãe lança mão do primeiro objeto que encontra pela frente: um
chinelo havaiana. Quando se cansou
de bater, a mãe empurra
o menino no sofá e grita
com ele. Ele tampou
os ouvidos, num instinto de fugir da conversa.
O trecho
acima é um exemplo de narração que mistura verbos no presente e no passado. O
problema é que isso não é feito de forma intencional. A ação toda acontece numa
mesma sequência de tempo; por isso, o escritor precisa optar se vai narrar o
fato no presente ou no passado. Veja:
Mal Hugo entrou pela porta, foi surpreendido pela mão dura da mãe, que o acertou em cheio com uma
varinha de marmelo. O garoto não sabia por que estava apanhando, mas tinha certeza de que tinha sido descoberto em
alguma de suas traquinagens. Quando a varinha se quebrou, a mãe lançou mão do primeiro objeto que encontrou pela frente: um
chinelo havaiana. Quando se cansou
de bater, a mãe empurrou
o menino no sofá e gritou
com ele. Ele tampou
os ouvidos, num instinto de fugir da conversa.
No trecho
acima, todos os verbos foram colocados no passado (mesmo aqueles que são
compostos). É possível, também, colocar todos os verbos no presente. Veja:
Mal Hugo entra pela porta, é surpreendido pela mão dura da
mãe, que o acerta em
cheio com uma varinha de marmelo. O garoto não sabe por que está apanhando, mas tem certeza de que foi descoberto em alguma
de suas traquinagens. Quando a varinha se quebra, a mãe lança mão do primeiro objeto que encontra pela frente: um
chinelo havaiana. Quando se cansa
de bater, a mãe empurra
o menino no sofá e grita
com ele. Ele tampa os
ouvidos, num instinto de fugir da conversa.
Observe que
quase todos os verbos foram colocados no presente. Por que quase todos e não
todos? Porque a ação de ser descoberto tem que acontecer antes da ação de
apanhar – assim, é necessário manter o verbo no passado, certo? Esse é um dos
momentos em que a regra de usar sempre o mesmo tempo verbal precisa ser
quebrada.
Sobre o pretérito mais-que-perfeito
Quando usamos a narração no passado, algumas vezes o narrador precisa contar um fato que aconteceu antes da história narrada. Aí entra o pretérito mais-que-perfeito. Ele é um passado anterior ao passado da história, entende? Parece confuso? Vamos simplificar.
Imagine que
você esteja narrando uma ação que aconteceu no ano passado. Você está contando
sobre um incidente em que precisou desesperadamente encontrar um banheiro:
Já íamos para quase duas horas de palestra quando percebi que não conseguiria mais segurar.
Minha bexiga doía.
Minha pele tinha
arrepios repentinos. Se eu não tivesse plena certeza de minhas condições físicas, diria que a urina já estava meio metro pra
fora.
Pois bem,
essa ação é contada no passado, certo? Verifique os verbos marcados em amarelo.
Se o narrador quiser dizer ao leitor que ele tomou um chá gelado, seguido de
duas latas de refrigerante, antes da palestra começar, essa ação é anterior à
ação de estar apurado na palestra, certo? Aí entra o pretérito
mais-que-perfeito. Você pode aplicá-lo aos verbos de duas formas:
a) com uma expressão verbal (formada pelo
verbo ter no pretérito perfeito + o
verbo principal no particípio):
A expressão
verbal que equivale ao pretérito mais-que-perfeito é tinha (ou tinhas, tínhamos, tínheis, tinham) seguido do verbo no
particípio (aquele que termina em –ado,
-ido). Veja:
Já íamos para quase duas horas de palestra quando percebi que não conseguiria mais segurar.
Minha bexiga doía.
Minha pele tinha
arrepios repentinos. Se eu não tivesse plena certeza de minhas condições físicas, diria que a urina já estava meio metro pra
fora. O pior de tudo foi que, antes de entrar no auditório, eu tinha degustado um delicioso chá gelado, e (tinha) bebido duas latinhas de coca-cola – o suficiente para
me transformar num gêiser pronto para jorrar líquido dourado e quente pela
louça sanitária.
b) com o verbo conjugado no pretérito
mais-que-perfeito (-ara, -era, -ira):
No Brasil,
não é comum as pessoas utilizarem o pretérito mais-que-perfeito com uma única
palavra. Mas num texto literário você pode fazer isso. Tenha em mente que
deixar de lado a expressão verbal tinha+particípio
para utilizar o mais-que-perfeito torna o texto um pouco mais erudito, mais
rebuscado (se for uma fala de personagem, leve em conta se as outras falas dele
condizem com tal formalidade). Veja:
Já íamos para quase duas horas de palestra quando percebi que não conseguiria mais segurar.
Minha bexiga doía.
Minha pele tinha
arrepios repentinos. Se eu não tivesse plena certeza de minhas condições físicas, diria que a urina já
estava meio metro pra fora. O pior de tudo foi que, antes de entrar no
auditório, eu degustara um delicioso chá gelado, e bebera duas latinhas de coca-cola – o suficiente para me
transformar num gêiser pronto para jorrar líquido dourado e quente pela louça
sanitária.
Andreia, excelente post :) Parabéns! Só fiquei com uma dúvida: Nos blocos de texto, a segunda frase "O garoto não sabia por que estava...", o verbo "estava" não mudou quando você passou para o presente.
ResponderExcluirVerdade. Passou batido na revisão.
ExcluirPor isso, eu digo e repito: não adianta, por mais que a gente revise, revise e revise, sempre passa algum furinho. hehehehe
Obrigada.