Como caracterizar um personagem?

Fonte: We Heart It

Um dos pontos de partida de uma história é o personagem. Saber quem é o seu personagem, o que ele fez, o que ele já viveu, por que situações traumáticas já passou, ajuda muito na construção do seu texto.

Há inúmeros exemplos de grandes histórias do cinema e da literatura que se centram em um personagem. Melhor é impossível, com Jack Nicholson, é um dos exemplos que eu posso citar sobre uma história que se constrói em cima de um personagem com transtorno obsessivo compulsivo (toc). Todo o enredo, a construção dos problemas e conflitos da trama estão diretamente ligados a essa característica peculiar e particular do protagonista.

Se pensarmos que toda história precisa ser verossimilhante (precisa obedecer à verdade interna da obra), precisamos encontrar quais são as motivações do personagem: que fatos ocorridos na vida dele o levaram a tomar esta ou aquela decisão; que traumas eles sofreu que o levaram a pensar e agir da maneira como ele pensa e age; que sonhos, que objetivos ele tem na vida pelos quais ele precisa lutar.

Vamos fazer um exercício?

Pense num personagem. Vamos montar um cadastro dele.

·        onde e quando ele nasceu

·        seu grau de instrução

·        sua ocupação / profissão

·        seus hobbies

·        quem são seus amigos

·        quem são seus inimigos

·        que músicas ouve, a que filmes assiste, o que lê

·        que traumas tem / teve

·        qual sua posição política

·        o que o move

·        o que o impede

Baseando-se nessas características dadas ao personagem, construa uma pequena cena em que essas características apareçam. Note: o que se está pedindo não é um parágrafo descritivo. O que se espera com esse exercício é que você crie uma cena, uma ação em que algumas dessas características do personagem fiquem evidentes.

Mesmo que algumas dessas características do personagem nunca venham a aparecer no seu texto, é importante que você, como escritor, saiba exatamente quem é esse personagem.

Imagine a cena: um garoto com um grau muito grande de miopia foi ao banheiro da escola. Lá, ele teve seus óculos arrancados do rosto e sofreu abusos sexuais por parte de outros alunos, maiores que ele, os quais ele não consegue nem mesmo identificar, já que sem os óculos ele não conseguiu vê-los. Pense no que seria mais comum que acontecesse na semana seguinte. O aluno foi à escola normalmente, confidenciou o fato a seu melhor amigo e juntos eles bolaram um plano para tentar descobrir quem foram os abusadores, para poderem se vingar deles, certo? Errado! Uma pessoa que tenha sofrido um trauma como esses normalmente precisaria de um tempo para se recuperar, sentiria medo de ir para a escola (ou até mesmo de sair à rua), uma vez que ele não é capaz de reconhecer seus abusadores. Por mais que você possa dar uma reviravolta ao seu personagem e fazer com que esse acontecimento traumático gere uma sede de vingança, tenha em mente que, numa situação verossímil, isso não aconteceria assim tão facilmente, logo em seguida.

Não tenha pressa em resolver o conflito!

Uma outra estratégia interessante é criar uma biografia detalhada para seus personagens se sua intenção é escrever uma história mais longa, como um romance ou uma novela, por exemplo. Mesmo que os fatos criados para a infância e a adolescência do personagem nunca apareçam na história que você criar, ainda assim esses fatos podem justificar algumas ações cometidas pelos personagens durante o enredo. Por exemplo, uma mulher que tenha sofrido muito nas mãos dos homens e que tenha se juntado a um movimento feminista de empoderamento das mulheres tende a tratar os homens de forma agressiva, até cruel, mesmo quando a ação é exagerada ou injustificada.

Toda ação é motivada por algum fator. No caso dos personagens, assim como na vida das pessoas, tudo o que é feito tem uma motivação. Essa motivação pode ser consciente ou inconsciente, quem age pode saber por que age assim ou simplesmente seguir um impulso, gerado por medo, trauma, emoção, amor ou qualquer outro sentimento. Assim, é importante que você compreenda exatamente quais são as motivações dos seus personagens.

 

Se você não conseguir caracterizar exatamente seu personagem no início da história, isso não o impede de começar a escrever e, no decorrer da escrita, ir melhorando a caracterização, incrementando a biografia dos personagens. Contudo, é importante que, se alguma característica fundamental foi alterada, que você revise o texto todo para verificar se em alguma outra cena anterior a atitude do personagem seria a mesma que você já tinha escrito ou se ela precisa ser modificada.