domingo, 11 de setembro de 2016

Setembro amarelo

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Não é segunda-feira, mas parece ser. Você está aí, com a alma doendo nos pulsos, ansiando ter uma moeda para entregar ao barqueiro, enquanto eu estou aqui, com tocos de unhas e a esperança estilhaçada como um espelho que se quebrou, trazendo sete anos de azar. Eu rezo para que você abra os olhos, imploro aos céus para que eu mesma possa acordar e ter certeza de que tudo não passa de um pesadelo, por mais que a dor não me deixe espaço para a dúvida: a realidade me enche hematomas dentro do peito, onde a culpa faz morada. Por quê?, perguntam-me as vozes da consciência.


Você é tão jovem! Qual é o peso do mundo sobre os seus ombros? Quantos sonhos seus foram pisoteados pelos coturnos da desventura? Eu sei que a sombra ali no canto é como uma sereia que hipnotiza e leva à perdição, mas mire-se no girassol: abra a janela e as cortinas, deixe o sol entrar. Não há sombra que sobreviva diante da luz. Levante os olhos, levante a cabeça, levante-se! Há momentos na vida em que as forças nos somem e a gravidade nos esmaga contra o chão, há dias em que as nuvens grossas escondem o azul do firmamento e a esperança escorre pelo ralo do banheiro. Mas olhe ao redor: sempre é possível encontrar algo em que se apoiar. Agarre-se nas mãos que se estendem em sua direção e tome um impulso.

Muitas segundas-feiras são azuis, mas lembre-se: setembro é amarelo. É tudo uma questão de tempo. Sei que os problemas são tijolos, que se empilham, que nos soterram, que têm quinas duras e frias – machucam mais quando caem sobre nossas cabeças. Mas o tempo é socorrista persistente: com paciência, ele remove pedra após pedra, tijolo após tijolo e, mesmo em meio a cacos e poeira, ele nos resgata dos escombros e nos coloca de pé, novamente. Eu sei que muitas segundas-feiras virão, e muitas serão azuis, mas espere por setembro.

É em setembro que as flores desabrocham, é quando os pássaros saem em busca de um amor, é quando o frio se vai e as portas para o verão são preparadas para se abrir. É em setembro que a vida se renova, que o cansaço abandona o corpo e a alma, que as coisas voltam pro lugar. Não me deixe um bilhete, não escolha uma música triste. Não procure a dor da lâmina ou o falso conforto dos comprimidos. Desista dessa ideia de fazer a travessia mais cedo, o barqueiro pode esperar.

Me dá sua mão?


(Andreia Evaristo)
Crônica publicada no jornal A Notícia, em 11 de setembro de 2016.


O Grupo Girassol organizou uma exposição de arte, intitulada Vida X Morte: Prevenindo o Suicídio. A exposição conta com obras dos seguintes artistas de Joinville, das mais diversas áreas: Guilherme Henrique de Freitas Oliveira, Wagner Tavares, Jessica Veiga da Silva, Jorge Hiroshi, Roseli Ritzmann, Eberson Theodoro e Andreia Evaristo. Prestigie!

O quê: Exposição Artística Vida X Morte: Prevenindo o Suicídio
Quando: 12 e 13 de setembro, das 10h às 22h
Onde: no Shopping Cidade das Flores (Rua Mario Lobo, 106 - Centro - Joinville - SC)

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