Já havia um bom tempo que ele tinha desabilitado do Facebook a exibição de sua data de aniversário. Não é que ele não comemorasse a data, pelo contrário. Mas entendia que, para aqueles a quem realmente importava, a data nunca era esquecida. Quanto aos outros, a vida privada não era matéria de exposição pública e indiscriminada. Não era do tipo que busca participação num reality show.
Todos os dias, quando acessava seu perfil, se deparava indignado com a mensagem que dizia João Carlos Rocha e mais 8 amigos estão de aniversário hoje. Mostre a eles que você se lembrou. Ele bufava e pensava sozinho “Mas eu, eu mesmo, não me lembrei de nada. Foi o Facebook que me lembrou, oras! Daqueles que eu me lembro, por conta própria, eu mesmo trato de parabenizá-los, com o meio de comunicação que me for mais conveniente.”
Todos os anos, embora a notificação de aniversário estivesse desabilitada, algumas pessoas realmente se lembravam dele e acabavam deixando suas felicitações pela timeline, o que abria uma brecha aos oportunistas desavisados, que se juntavam ao coro de felicitações, caídos de paraquedas.
Este ano, resolveu mudar o perfil. Com a notificação ativada, foi imerso uma enxurrada de mensagens robotizadas dos que foram lembrados pelo algoritmo que neste dia, há 33 anos, ele abrira os olhos à luz do mundo pela primeira vez. Gente que há muito não se manifestava brotou da terra para lhe felicitar. Encheu-se daqueles parabéns de obrigação, aqueles feitos em forma, copiados e colados para todos os aniversariantes, da mesma forma, sem tirar uma vírgula do lugar.
Contudo, o ego é um bichinho fácil de se alimentar nessa data. Ver centenas de notificações no aplicativo, bipando a cada segundo, é como sentir-se meio pop star. Aproveitou seus momentos de massagem no ego, suas pequenas gotas de desejos bons e tudo aquilo que todo mundo sempre deseja nos aniversários.
O caso é que ele preferia – sempre preferiu – qualidade à quantidade. No dia seguinte ao aniversário, voltou a desligar a exibição da data aos amigos virtuais. Amigo por amigo, ia manter por perto os de carne, osso e alma.
(Andreia Evaristo)
Crônica publicada no jornal A Notícia, em Joinville, em 09 de abril de 2016.
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