segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Leonino não nasce, estreia

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Sou leonina, não nego. Pode ficar tranquilo, que não vou falar de previsões astrológicas, nem desvendar meu mapa astral nestas poucas linhas (até porque não tenho bem certeza de acreditar nessas coisas). Mas uma coisa é certa: eu não nasci em agosto, eu adentrei no palco da vida (porque, não sei se você sabe, mas leonino não nasce, estreia). E, estando num palco, todos os holofotes do mundo estão voltados para mim, eu sinto (ou, pelo menos, minha autoestima me faz acreditar que sim).


Sendo eu a estrela principal da minha vida, é como se eu vivesse um filme, um videoclipe. Vou lhe contar uma coisa: o meu roteirista é incrível. Esses dias, mesmo, enquanto eu passava pela Beira-Rio, ali ao lado das figueiras que já deram o que falar no passado, uma rajada de vento levou ao chão, em câmera lenta, sobre minha cabeça, dezenas de folhas secas cor de ferrugem, rodopiando leves como penugens pelo ar. Linda a cena! (e totalmente gratuita).

Coincidência, dirá você, com um ceticismo latente. Talvez você tenha razão. Mas há tantas dessas coincidências na minha vida, que não consigo deixar de me questionar que lógica é essa que organiza o caos. Essa semana, mesmo, quando a noite já tinha debruçado seu manto negro e estrelado sobre a cidade, mal eu dobrei uma esquina e uma saraivada de fogos de artifício iluminou o céu, colorida, estrondosa, aplaudindo a minha chegada. Começou justamente no momento em que eu entrei na rua, como se estivesse me esperando, e durou exatamente o tempo que eu levei para passar por ela: assim que encostei o carro junto à calçada, para registrar o momento, o último círculo luminoso se espalhou pelo céu e morreu na escuridão. Havia uma festa de igreja, mas a coincidência do momento não me deixa dúvidas: eram para mim os fogos, eles me recepcionaram e deixaram meu dia mais feliz. Segui o caminho até a outra esquina, todo iluminado por tochas tiki dos dois lados da rua, guiando meu destino.

A alegria nesses momentos é única, intensa. Algo que nem todo mundo tem. As crianças, sim, têm de sobra: elas agradecem ao sol, que lhes permite usar bermudas; se alegram com a chuva porque podem usar galochas. A criança que mora em meu peito se alegra com esses pequenos milagres do dia-a-dia, que são feitos só para mim, tenho certeza – e são gratuitos, presentes do meu roteirista. Incrível.

(Andreia Evaristo)
Crônica publicada sábado, 20 de agosto de 2016, no jornal A Notícia.
Online: Diário Catarinense // Jornal de Santa Catarina // Joinews

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