- Moça, o que
tá acontecendo que o shopping tá tão
cheio?
Estou espantada com a quantidade de veículos estacionados, que me fez
quase querer desistir de entrar. Na verdade, eu desisti. Saí do estacionamento,
fui resolver outras coisas, e retornei para o mesmo problema.
Mês das
crianças, correria no shopping. Lojas
cheias de gente, praças de alimentação lotadas, choradeira na saída do
estacionamento. Mas ele queria ficar só mais um pouquinho, mãe! E a mãe, cheia
do que fazer em casa, insiste que nem mais um pouquinho, nem mais um poucão. E
o filho que engula o choro, senão vai ficar sem presente.
As moças das
lojas esperam ansiosas pela enxurrada interminável de pessoas em miniatura que
vão invadir o espaço, escolher e espernear na hora de pedir o seu presente de
dia das crianças. As moças são ótimas atrizes – parece até que se preocupam com
algo além da comissão que, esperam, seja gorda no fim do mês (até porque, para
aturar algumas birras e manhas com um sorriso no rosto e uma expressão de quem
está ali para qualquer necessidade, é preciso uma disciplina semelhante àquela
que se espera de quem almeja um Oscar).
Buscando uma
fuga dessa correria, volto-me para a praça de alimentação. Opto pelo fastfood, que não me consome tempo para
comprar nem para escolher. Alimentação saudável seria uma escolha melhor, eu
sei, mas minha ansiedade foi contaminada pela agitação das pessoas a comprar,
comprar e comprar. Quando me sento para comer, observo ao redor. Uma menina, de
mais ou menos sete anos de idade, está sentada compenetrada na leitura de um
livro. Alheia a toda a movimentação, ela corre os olhos pelas letras e imagens
que residem naquelas páginas coloridas, enquanto espera pela volta da mãe.
Uma bandeja é
colocada à sua frente, com um prato de comida bem colorido. Ela não desvia o
olhar do livro, a não ser quando chega à última página. É quando se levanta,
envolve a mãe com os bracinhos pequenos e solta um “esse livro é o melhor
presente do mundo!”
Eu sonho com
um mundo assim: com mais gratidão, menos agitação e mais gente interessada em
ser, em ler, em saber, do que em ter, ter e ter.
(Andreia Evaristo)
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