sábado, 14 de novembro de 2015

Dia das crianças

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- Moça, o que tá acontecendo que o shopping tá tão cheio?

Estou espantada com a quantidade de veículos estacionados, que me fez quase querer desistir de entrar. Na verdade, eu desisti. Saí do estacionamento, fui resolver outras coisas, e retornei para o mesmo problema.

Mês das crianças, correria no shopping. Lojas cheias de gente, praças de alimentação lotadas, choradeira na saída do estacionamento. Mas ele queria ficar só mais um pouquinho, mãe! E a mãe, cheia do que fazer em casa, insiste que nem mais um pouquinho, nem mais um poucão. E o filho que engula o choro, senão vai ficar sem presente.

As moças das lojas esperam ansiosas pela enxurrada interminável de pessoas em miniatura que vão invadir o espaço, escolher e espernear na hora de pedir o seu presente de dia das crianças. As moças são ótimas atrizes – parece até que se preocupam com algo além da comissão que, esperam, seja gorda no fim do mês (até porque, para aturar algumas birras e manhas com um sorriso no rosto e uma expressão de quem está ali para qualquer necessidade, é preciso uma disciplina semelhante àquela que se espera de quem almeja um Oscar).

Buscando uma fuga dessa correria, volto-me para a praça de alimentação. Opto pelo fastfood, que não me consome tempo para comprar nem para escolher. Alimentação saudável seria uma escolha melhor, eu sei, mas minha ansiedade foi contaminada pela agitação das pessoas a comprar, comprar e comprar. Quando me sento para comer, observo ao redor. Uma menina, de mais ou menos sete anos de idade, está sentada compenetrada na leitura de um livro. Alheia a toda a movimentação, ela corre os olhos pelas letras e imagens que residem naquelas páginas coloridas, enquanto espera pela volta da mãe.

Uma bandeja é colocada à sua frente, com um prato de comida bem colorido. Ela não desvia o olhar do livro, a não ser quando chega à última página. É quando se levanta, envolve a mãe com os bracinhos pequenos e solta um “esse livro é o melhor presente do mundo!”


Eu sonho com um mundo assim: com mais gratidão, menos agitação e mais gente interessada em ser, em ler, em saber, do que em ter, ter e ter.

(Andreia Evaristo)

Publicado em 10 de outubro de 2015, no jornal A Notícia.

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