O clima mudara: um friozinho gostoso se espalhava pela casa. O céu límpido completava o clima perfeito para a ocasião. Dias perfeitos são sempre assim, pensava ela, com frio e sol. Uma combinação criada por Deus, para reacender a chama da esperança nas lamparinas da alma humana.
Perfeita era a atmosfera para retirar das coisas adormecidas a poeira acumulada pelos anos. Abriu uma caixa, remexeu livros amarelados, cujas páginas já não se recordavam mais se eram uma ou várias. Em outra caixa, cartas antigas, de uma época que não havia tecnologia para aproximar mensagens e afastar pessoas. As cartas vinham de longe, mas os corações dos remetentes batiam lado a lado. Na terceira caixa, foi onde se demorou mais.
Escondidas em manuscritos rebuscados, as letras traziam versos escritos à sombra. Nunca conheceram o vento, que os poderia ter levado a longas distâncias. Curiosos, os olhos vasculhavam em busca de preciosidades deixadas para trás, abandonadas e escondidas por alguém que não era mais ela.