Era a terceira vez que ela me falava do ex-marido naquele ano. Eles tinham se casado na igreja, conforme a tradição. Tinham tido um casal de filhos, uma casa e um cachorro, com direito a café da manhã de comercial de margarina aos domingos. O modelo “perfeitinho” dos contos de fadas modernos.
Mesmo que ela nunca dissesse, mesmo sabendo que negaria se eu perguntasse, eu tinha certeza de que ela ainda o amava. Já se iam dez anos desde a separação. Os filhos, adolescentes, já tinham perdido a ilusão de que os pais, um dia, voltariam a se reconciliar. Mal sabiam eles que, de tempos em tempos, os pais voltavam a dividir os lençóis e as juras de amor de antigamente.
Munida de uma cara-de-pau entalhada detalhe por detalhe com requintes de marchetaria, soltei:
“Quero te fazer uma pergunta. Mas você não responde se não quiser, tá?”