Mesma rua de sempre, mesmo cruzamento que já apareceu por aqui. O caos e o calor me assolavam a moleira, já que não considerei o calor de Joinville na ansiedade que tomou conta de mim quando eu comprei meu carro no ano passado. Levei em conta preço e mecânica, deixando os opcionais como segunda ordem. Nesses dias de sol estralando mamonas, a voz de meu irmão mais novo ressoa dentro de mim: “Não precisa de ar condicionado? Quando você estiver esturricando feito solo do nordeste, parada no trânsito, a gente argumenta se é mesmo um luxo desnecessário.” É um filho da mãe – da minha mãe, nesse caso.
Parada no sinal vermelho, observo os carros que param na direção contrária, porque o semáforo atrás de mim também está fechado. De dentro de um outro veículo sem ar condicionado, com as janelas escancaradas, analiso a mulher ao volante. Deve ter a minha idade. Mantém as duas mãos fixas no volante, já os olhos fixam ao longe algo que não está lá. Seu rosto, tão vermelho quanto a sinaleira, não consegue esconder o choro que por ali fez passagem. Sou indiscreta, eu sei, minha mãe me ensinou que não é educado ficar encarando pessoas que eu não conheço, ainda mais se estiverem vulneráveis. Mas não consigo evitar: é mais forte que eu, é como um ímã a puxar meus olhos.