segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Primaveras e subtons


Desde muito pequena, inspirada pela fala de minha mãe, eu repetia aos quatro ventos “O inverno é minha estação favorita.” Não é que eu não tivesse minha própria opinião, mas crianças enxergam o mundo com os olhos do exagero, com uma radicalidade própria de quem muito pouco conhece das coisas da vida. Na cabeça infantil, não há espaços para os subtons: tudo é que não é preto, é branco.



Do verão, aquele que frita nossos cérebros nas tardes malemolentes, aquele que desperta os poros ao suor que pinga em bicas, eu sempre tive certeza de que pouco gostava. Gosto dos dias ensolarados, mas não do calor que o acompanha. Verão é ótimo, mas só se você tiver tempo para desfrutar de atividades ao ar livre, aproveitar a água (seja ela da piscina, da praia ou do rio) e a companhia das pessoas veranizadas. Mas, como eu, se você precisa trabalhar num ambiente emparedado, cheio de crianças e adolescentes apaixonados pelas aulas de educação física nas quais eles correm de um lado para o outro, colocando o corpo e as glândulas sudoríparas para funcionar, você há de concordar comigo: verão é um inferno!

Com o tempo, fui percebendo que não era exatamente o inverno que eu gostava. Eu até gosto de um friozinho, de um bom vinho tinto numa noite para degustar acompanhada de um abraço que aquece, de uma boa massa com um molho denso e quentinho para aplacar as friezas do clima. Enfim, gosto quando o inverno chega. Mas entendendo que a vida não é feita de oitos ou oitentas, descobri que quando o frio se estende demais, o corpo paga um preço (o meu, pelo menos): a rinite aumenta, a asma resssurge das cinzas como uma fênix, o nariz avermelha e os vírus oportunistas encontram uma porta entreaberta. Ou seja, nem tudo é fondue e lareira.

Não faz muito tempo que descobri que me identifico mesmo é com a primavera, essa estação amena quando tudo floresce, a estação em que os passarinhos cantam em busca de uma companheira, em que os animaizinhos dos desenhos animados despertam para o amor e o aconchego. A primavera ainda guarda o frescor saudosista do inverno que se foi, mas abre espaço para os cálidos raios de sol que alimentam a vida de dentro pra fora. A primavera, para mim, prova que a vida não é feita de preto e branco. Há vários tons de cinza, há vermelhos, rosas, púrpuras. Há azuis, roxos, violetas. Há muito mais que ideias radicais e endurecidas.


(Andreia Evaristo)
Crônica publicada em 24 de setembro de 2016, no jornal A Nóticia.

2 comentários :

  1. Eu também tinha as minhas preferências quanto a climas. AMO O VERÃO mas entendo que ele pode ser infernal. Ao contrário de você aqui em Salvador, da para desfrutar mais o calor (porque é verão do inicio ao fim do ano) kkk. Mas.... nossa, é um pinga, pinga danado. E inferno (fora asma que não tenho) me ataca tudo, os virus realmente enchem o saco. kkkkkkkk

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    1. Mas aí em Salvador tem praia, né? hehehehe
      Aqui em Joinville, o clima é quente e úmido, uma loucura! É por isso que eu amo esse nosso Brasil: cada cantinho, uma sensação diferente.
      P.s.: Sorte sua não ter asma. heheheheh

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