quarta-feira, 15 de junho de 2016

Como melhorar a escrita dos diálogos - Vírgulas

uso da virgula vocativo dicas para escritores

Pensando em alguns errinhos que as pessoas cometem na construção de suas frases, vou fazer uma séries de posts com dicas práticas para melhorar a escrita dos diálogos das suas histórias.

1. Vírgulas e vocativos


Vocativo é o chamamento de alguém. Sabe, naquela frase, quando um personagem chama o outro pelo nome, por um apelido, ou algo que os substitua? Esse é o vocativo.
O vocativo pode vir no início, no meio ou no fim da frase.

Veja:

Garoto, você tem algum sonho?”

“Você, garoto, tem algum sonho?”

“Você tem algum sonho, garoto?”

Os exemplos acima mostram a palavra garoto como o vocativo, ou seja, a forma como a personagem se refere ao menino com quem conversa. Em todos os casos, veja, a forma como o garoto é chamado é separada do resto da frase por vírgulas.

Assim, se está no começo (“Garoto, você tem algum sonho?”), é preciso colocar vírgula depois do vocativo. Se estiver no fim (“Você tem algum sonho, garoto?”), é preciso colocar uma vírgula antes. E, se estiver no meio (“Você, garoto, tem algum sonho?”), precisa de uma vírgula antes e outra depois.

O maior problema com os vocativos é que as pessoas muitas vezes não conseguem identificá-los. Veja:

Amor da minha vida, daqui até a eternidade, nossos destinos foram traçados na maternidade.”

(Exagerado – Cazuza)

O vocativo na frase acima é composto de quatro palavras – amor da minha vida. É essa a forma que o interlocutor é tratado, logo, é um vocativo e precisa ser separado do restante da frase com vírgula.

Vejamos mais um exemplo:

“Mas preciso me virar logo, Sandra. Não saí das asas do meu pai para ficar dependendo de você aqui, né?”
“Ei, bonita, mas eu não estou te cobrando nada, hein? Eu já teria que vir pra cá mesmo, pra fazer esse mestrado.”

(Sugar baby – Eva Sartorini)

Na primeira fala, o vocativo é o nome da personagem (Sandra). É mais fácil de identificar. Já na segunda fala, como é que Sandra se refere à primeira personagem? Ela a chama de bonita – mas não se trata de um elogio. Ela sempre chama Catarina de bonita (na verdade, ela chama as pessoas de bonita e bonito), como se fossem seus nomes/apelidos. Algo do tipo:

“Ô, bonito, faz um favor pra mim?”
“Mas tu não fizeste isso mesmo, bonita.”

Ou seja, nesse caso, bonito(a) é o vocativo, e precisa ser separado com vírgula do resto do texto.

2. Vírgulas e expressões típicas da fala


Algumas expressões próprias da fala das pessoas vão, inevitavelmente, aparecer na escrita das falas dos seus personagens. Isso ajuda a criar verosssimilhança, acrescenta verdade às falas. Expressões de confirmação são ótimas para isso, tais como né?, tá? e hein?. Mas lembre-se: essas expressões também devem ser separadas do restante da fala com vírgulas (valem as mesmas regras que para os vocativos):

“Não se esquece de guardar meu material, ?”

“Tecnicamente, isso é um galo. Cê sabe que não deixa cicatriz, ?”

O que você disse aí, hein?

Outras expressões típicas de fala podem servir de introdução para as falas (algumas são usadas em fim de frases também), como então, pois é, olha... Essas também devem vir separadas por vírgula do restante da frase.

Então, sobre aquele vídeo da Ema e da meleca...”
“Ficou maneiro, ? Fala sério.”
“Não. Não ficou maneiro.”
“Como é que é?” Sua expressão tinha mudado completamente.
“Eu acho que tu tá pegando muito pesado, cara. Ema é uma menina. Acho que você não devia mexer com uma menina como ela, isso é meio que covardia.”

(Eita! Deu treta – Andreia Evaristo)


4 comentários :