10 dicas para escrever um romance de 50.000 palavras em 30 dias

O que eu aprendi no NaNoWriMo 2015?

NaNoWriMo (National Novel Writing Month) é um desafio que acontece todos os anos, no mês de novembro. Nele, pessoas do mundo inteiro se desafiam a escrever um romance de pelo menos 50.000 palavras em 30 dias.



Esse ano (2015), eu aceitei o desafio. Com uma ideia em mente, construí os personagens (com fichas detalhadas), montei um roteiro de escrita baseado na jornada do herói e me meti a escrever. A experiência foi interessante - eu comecei atrasada, mas bati a meta com 5 dias de vantagem. Nessa jornada, eu aprendi:

1. Escreva, escreva, escreva

Não volte atrás. Normalmente, eu gosto de voltar na história, reler, fechar algumas lacunas antes de continuar a escrever. Mas com 30 dias para 50.000 palavras isso não é possível (pelo menos, não sempre). Assim, pela primeira vez eu me obriguei a escrever sem ficar pensando no que tinha deixado nas páginas que já estavam escritas (ok, vou confessar que quando tive um momento "eureka", eu precisei colocar umas pistas nas cenas passadas, mas foi pouquíssima coisa, juro!).

2. Elefantes evitam bloqueios mentais (e paradas para pesquisa)

Você quer escrever uma cena em que a personagem começa a dançar. Mas ainda não escolheu a música que se encaixa no estado de espírito que ela se encontra no momento. Nesse caso, você tem duas opções:

a) você para a escrita e vai pesquisar a melhor música para a cena; ou

b) você substitui o nome da música pela palavra elefante e continua a escrever.

Normalmente, eu pararia tudo para ficar algumas horas alguns minutos pesquisando a melhor música, mas dessa vez, me permiti usar os elefantes. Eles servem quando você não acha o advérbio perfeito, o adjetivo correto, o substantivo que melhor defina sua ideia. Elefantes são ótimos aliados!

Vi muita gente nos grupos do NaNoWriMo que colocam imagens e ficam perguntando os nomes de coisas, e deixam de avançar na história. Como é o nome da grade lateral de uma cama de hospital? Elefante. Como é o nome da ferramenta que se usa para perfurar a pele para colocar um piercing? Elefante. Só não se esqueça depois de voltar atrás na história e substituir seus elefantes, hein?

3. Personagens falam com o escritor o tempo todo

Quando você se mantém fixo numa história por 30 dias a fio, tendo que escrever uma média de 1.667 palavras por dia para conseguir bater a meta (se não for mais, como eu, que comecei no quarto dia), você pensa na sua história 24 horas por dia. Depois de uma semana, os personagens ganham vida e não deixam você em paz: são como o Malvo, de Todo mundo odeia o Chris: você olha para o lado, lá está o personagem; vai ao banheiro, lá está outro personagem. Nem os seus sonhos eles deixam em paz.

Mas isso é muito bacana: personagens bem construídos, desses que ganham vida, são personagens que nos dão dicas de como eles próprios lidam com seus conflitos. Lembre-se: sua função como escritor não é descrever o mundo pelos seus olhos, mas pela ótica dos personagens.

4. Ter um roteiro é legal, mas não perca a capacidade de criar

Como eu disse acima, eu planejei minha história do NaNo como uma arquiteta: escrevi um roteiro, tim-tim por tim-tim. Mas, na hora de escrever, me dei a liberdade de lançar sementes e esperar para ver o que brotaria. Isso me permitiu ter dois momentos eureka: por duas vezes, na história, consegui dar uma virada dessas que chegaram a me deixar tonta (o chamado plot twist).

Assim, mesmo que você se planeje, não perca essas ideias, esses feelings, esses momentos de descoberta. Às vezes, o texto fica muito melhor indo por um caminho desconhecido do que seguindo o mapa que você traçou no início.

5. Deixe os personagens ganharem força

Minha história, a princípio, tinha uma protagonista e um antagonista. Alguns personagens secundários, mas o conflito principal girava em torno dos dois primeiros. Até a chegada de um personagem secundário, que acabou ganhando força e virou um segundo antagonista. Eu não tinha planejado isso. Aconteceu. Mas o crescimento desse personagem na história foi justamente o que proporcionou um dos plot twists do enredo.

Se eu tivesse ficado apegada demais ao meu próprio roteiro, eu teria uma boa história, mas talvez não teria sido tão bacana quanto eu acho que ficou com as mudanças que surgiram com o crescimento do segundo antagonista.

6. Você não está sozinho

Tem uma galera nesse Brasilzão de Meu Deus escrevendo. Escrevendo muito. Buscando vencer seus próprios obstáculos, superar seus próprios limites. E essa gente se junta, pela internet ou pessoalmente, e troca ideias, se ajuda, dá dicas, apóia. Um viva pros NaNo lindos desse Brasil!

Esse povo escritor ajuda muito na motivação, dá um up na galera que começa a desanimar. Ver que alguém conseguiu chegar lá também serve de estímulo para se manter escrevendo.

7. Você é seu único obstáculo

Como no NaNoWriMo você pode validar uma história em qualquer idioma, sem ninguém controlando, sem ninguém para verificar se você cumpriu mesmo o que diz que cumpriu, você é seu único obstáculo. Ninguém vai saber se você burlar o sistema. Ninguém vai saber se você copiar um texto de outra pessoa, se escrever uma enormidade de palavras sem sentido. Mas a sensação de chegar ao fim do mês, completando suas 50.000 palavras em 30 dias, é inexplicável. No fim, tem um vídeo lindo, com uma galera te parabenizando e aplaudindo a tua vitória (all in English, of course!). Juro que fiquei emocionada.

8. Gráficos e badges são ótimos incentivos

Quando você acessa seu perfil na página do NaNoWriMo, há um gráfico, que mostra sua evolução (em número de palavras escritas) e uma linha, que seria a meta ideal de escrita, dia após dia. Eu comecei atrasada e acho que olhar meu gráfico tentando alcançar a linha da meta foi uma das formas de me manter motivada.

Outra coisa bacana são os badges que você acumula - a cada ação que você realiza, ganha um novo badge (tipo escoteiro, sabe?). Eu queria todos, mas não dá. Há situações em que você precisa escolher um ou outro (ou você planejou sua história, ou vai deixá-la fluir livre como um passarinho).

9. Não se compare

Muita gente terminou o desafio lá pelo dia 20 (que é a data em que você consegue validar sua história com mais de 50.000 palavras e ser considerado um vencedor). Muita gente se desafio a escrever mais 100.000 palavras para o NaNo 2015. Muita gente escreveu em outro idioma. Ok, não se compare com ninguém. O NaNo é um desafio pessoal: você não precisa se comparar com os outros participantes. Não há ranking, não há um único vencedor, não há um hall da fama.

Gente como eu, que estava participando pela primeira vez do NaNo, estava apavorada. E se a gente não conseguisse terminar a tempo? Bem, eu levei minha participação a sério. Mas escrever um romance é como correr uma maratona: você não vai chegar em primeiro lugar na primeira maratona que correr. O importante é não desistir e continuar correndo. Se parar de se comparar com as outras pessoas, o fardo não fica tão pesado, a ansiedade não fica tão grande e a coisa flui mais facilmente.

E daí se você não terminar? Você ainda pode terminar sua história depois que o mês terminar. Não vai conseguir o selo de winner? Não. Mas o mundo não para por causa disso, certo?

10. Sua história pode até fica boa, mas vai precisar de uma boa revisão

Escrever um livro em 30 dias é possível? Sim. Se ele vai ficar bom? Bem, pode até ficar. Mas, com toda certeza do mundo, ele não estará pronto. O próprio NaNoWriMo tem um badge (olhaí minha pequena dose de motivação!) que você ganha quando se compromete a revisar seu texto até 31 de janeiro do ano seguinte. Assim, vale a pena editar, revisar, reescrever, cortar, acrescentar - como precisaria ser feito com um romance escrito sob qualquer outro prazo ou proposta.